A reunião que aconteceu no dia 16 de abril de 1975, convocada em caráter extraordinário, foi para dar conta à assembléia da reunião havida dos diretores Sultan Falluh, Nelson de Abreu e Ruy Abdalla com o novo prefeito Jamel Cecílio, tratando de providências para a implantação do Distrito Agro Industrial de Anápolis.
Aliás, em reunião havida com o Sr. Governador do estado, Dr. Irapuan Costa Junior esse assunto já havia sido ventilado, explicando o Sr, Governador que o problema maior era a falta de dinheiro, que ele o estava buscando para levar avante o projeto.
Da reunião com o Prefeito, Jamel Cecílio, a comissão dos três representantes da ACIA fizeram questão de constar em ata o que afirmou o alcaide:
“Oportunidade em que teve do Prefeito a promessa de que iria contra tudo e contra todos, caso a industrialização da cidade assim o exigisse”.
(Cf. Ata de 16/04/1975, Livro Presidente Sultan Falluh, pág. s/nº).
O EMBRIÃO INDUSTRIAL
Inegavelmente, Anápolis, hoje se constitui como um polo industrial, com amplas possibilidades de se tornar um dos maiores do país. Muitos afirmam que o município, embora com sua área física reduzida, desde priscas eras, nasceu com a vocação industrial.
Não é bem assim. O que fez Anápolis progredir e destacar-se como município, sempre crescente, em evolução, foi, deveras à sua situação geográfica, privilegiada, assentada no cruzamento de estradas, auxiliada pela fertilidade de suas terras, tidas como de culturas, onde se fixaram os produtores de café, de cerais e criadores de gado, fazendo da região chamada “Mato Grosso de Goias”, a mais habitada e a mais produtiva do Estado.
Sobre o processo industrial, lembro-me do Querubino Batista, no final dos anos vinte, um homem alto, robusto, claro, de cabelos e barbas aparados, postado junto à fornalha. acionando o fole, que soprava as brasas, alimentando o fogo para encandecer pedaços de ferro, com os quais fabricava os cravos para a ferragem das rodas dos famosos e lendários carros de bois. De fato, de longe vinham as peças – mesas e rodas dos carros, já prontas – para receberem os reforços das ferragens, sobretudo, o cravejamento das rodas. Digno de admiração foi o trabalho do Querubino, um exímio artesão de família tradicional do lugar, que era muito conhecido pelo uso de seu fumarento caximbo.
A década de trinta, de fato marca o inicio do nosso processo de industrialização. As chegadas das famílias de Jad Salomão, Luiz Carpaneda irmãos Steckelberg, assinalam a ampliação do setor, já iniciado por Anisio Cecilio e João Pedreiro (Dib Hajjar), Carlos Elias e Victor Soares de Azevedo que haviam assentadas, aqui, as primeiras maquinas para beneficiamento de café.
Todavia é oportuno e justo salientar que o setor cerâmico que veio, logo, contribuir, e muito, para a construção de Goiania. A primeira olaria para fabricação de tijolos foi instalada junto ao córrego Olaria por Bruno de Tal, no ano de 1921 que fabricou as telhas e tijolos para a construção da bonita casa do Chico Silvério.
Depois, foi o palestino Jad Salomão, professor, homem de cultura que aqui chegou com sua família, procedente de Araguari e instalou a primeira cerâmica fabricando telhas francesas, obtidas por prensa manual, à falta de energia, ainda escassa no ano de 1932.
Logo mais, o Sr. Fortunato Dafico, instalou outra cerâmica, em sua propriedade no Catinqueiro e lançou no mercado, tijolos prensados e telhas de melhor qualidade, que foram aceitos, sobretudo, na implantação de Goiânia. para onde carrearam os produtos cerâmicos, aqui produzidos, para as construções ali levantadas.
O setor prosperou. Muitas outras cerâmicas surgiram na baixada da fazenda conhecida como Lagoa Formosa, e ao tempo da implantação de Brasilia foram as que mais contribuíram com seus produtos para as bonitas construções da nova capital do Brasil.
O conjunto de instalações do Sr. Fortunato Dafico foi adquirido pela firma Pina Naghetini que passou a fabricar, também manilhas, mosaicos e outros artefatos.
Foram instaladas muitas outras cerâmicas e o bairro ficou conhecido como Vila Fabril, sobretudo pela construção do Frigorifico, já desenvolvido pela família Leyzer, de Ipameri.
Todavia o processo de industrialização de Anápolis, toma impulso consolidando-se na década de 1970, quando foi criado o Distrito Agro Industrial de Anápolis, inaugurado pelo presidente Ernesto Gaisel em 9 de novembro de 1976.
O DAIA
O D A I A, abreviatura do nosso Distrito Agro Industrial de Anápolis, tem uma história interessante. Dir-se-ia obediente ao preceito da sabedoria popular. “A necessidade é a mãe de todas as invenções”.
Ao iniciar a década de setenta, dez anos após a inauguração de Brasilia, a segunda grande capital que Anápolis ajudou a implantar, assinalava o declínio do nosso setor econônimo, com a sensível diminuição do nosso potencial, como o maior entareposto de cereais, no centro do país.
Começaram a surgjr, e estruturar, as primeiras Faculdades de Ensino Superior. O setor cerâmico consolidava-se, estimulado pelo crescimento de indústrias, instaladas para atender a demanda crescente, com a implantação de Brasília.
Alguém idealizou concentrar, fora da cidade, várias indústrias que já manifestavam desejo de aqui se instalarem.
Da apraoximação da Diretoria da Acia, chefiada por Ruy Abdala, acompnhado de vários diretores, com o Governador Leonino di Ramos Caiado nasceu o desejo de se intalaar, no lado sul da nossa cidade, um polo industrial, em terreno plano e aberto, com a necessária infra-estrutura, com energia elétrica, rede de água potáveel, esgoto sanitário, vias de comunicação asfáltica, para entrada e saída de matéria prima e produtos industrializados
A inauguração do DAIA, (Distrito Agroindustrial de Anápolis), ocorreu no dia 9 de novembro de 1976, pelo então Presidente da República, Ernesto Geisel, acompanhado do Governador do Estado, Irapuan Costa Junior e do Prefeito Municipal Jamel Cecílio.
Governador Irapuam Costa Júnior com o presidente da República Ernesto Geisel.
Inauguração do DAIA. Novembro 1976.
O projeto de sua execução começou a se esborçar no ano de 1973, com a lei estadual nº 7.700/73, que criou o Fundo de Expansão da Indústria e do Comércio.
Com apoio nessa norma, por intermédio do Escritório de Representação de Goiás, no Rio de Janeiro, chefiado pelo jornalista José Asmar, e pelo intenso trabalho de Antônio Augusto de Azeredo Coutinho, então Secretário Estadual da Indústria e Comércio, foi entabulada negociação para que a Companhia de Cervejas Brahma incorporasse a fábrica da Cebrasa, em Anápolis, que se achava paralisada por falta de recursos.
A Brahma veio para Anápolis, após adquirir a Cebrasa, instalada à margem da BR 060, marcando o início da nossa industrialização, mais moderna.
O assentamento da Base Aérea de Anápolis traria certo pretígio.
Para que novos investidores procurassem pelo município, que abandonava o processo exclusivo de beneficiamento de cereais, para avançar em outros campos de atividades mais promissoras e consentâneas com a localização estratégica de Anápolis. Foi assim a criação de Faculdades de Ensino Superior e a busca da verdadeira industrialização, face ao posicionamento logístico favorável do município anapolino, entre tantos concorrentes no Estado.
Voltando ao Distrito Industrial, afirma o escritor Pablo Kossa, que
“ O DAIA é fruto desse esforço coletivo entre lideranças classistas e governantes que entenderam a real necessidade do distrito para capitalizar toda a tradição empresarial de Anápolis.”
De fato, quando o projeto estava na fase das cogitações, sobre localização, recursos e providências, surgiram os óbices, que a história registrou:
“Foi cogitada a hipótese de o Distrito ser construído em Anápolis. Mas pessoas da Secretaria Estadual de Indústria e Comércio acreditavam que seria mais viável e prático sua viabilização em Goiânia ou Senador Canedo.
Isso gerou enormes disputas dentro dos poderes Execultivo e Legislativo. Parlamentares que representavam cada região se articulavam para tentar levar para a área onde o seu eleitorado era mais representativo. Os empresários de cada localidade trabalhavam suas influências internas no governo para ver o que conseguiam, em uma grande celeuma foi criada”.
Prevaleceu, sim, a inteligência e o bom senso, pois as condições naturais de Anápolis, face á lógica, venceram as investidas adversas e contou, felizmente, com a ascensão do governador Irapuan Costa Júnior ao comando do Estado, para assegurar ao município de que foi Prefeito, e consagrado como político sério e idealista.
Em contato direto com a diretoria da ACIA, o governador ativou o processo de criação e consolidação do DAIA. Após um ano de intensos trabalhos de elaboração do projeto, com observação às credenciais para receber verbas do FDI (Fundo de Desemvolvimento Industrial), como fator inicial, foi submetido à análise por técnicos do Ministério do Planejamento, em Brasília, que o ajustaram ao rigorismo da lei.
Orçado em 257 milhões de cruzeiros, recebeu a primeira parcela de 108 milhões depositados na agência do BEG (Banco do Estado de Goiás).
Pelo Decreto nº 187, de 17 de setembro de 1973, foram indenizados 41 proprietários de terras próximas aos trilhos da estrada de ferro, outorgando-se as escrituras à Goiasindustrial.
Com substanciais investimentos da empresa de economia mista Saneago (Saneamento de Goías S.A.), foi implantada a infraestrutura e o projeto começou a tormar corpo, com a participação da Celg (então Centrais Elétricas de Goiás S.A.), outra empresa de economia mista, contribuinte imperativo.
Muito cooperou Sultan Falluh, amigo pessoal do governador Irapuan, que o nomeou Secrétario de Indústria e Comércio.
Sulta Falluh com o empresário literato Newton Egydio Rossi, presidente da
Fecomérci o-DF, em Janeiro de 1977.
As primeiras indústrias a se instalarem no Distrito foram a Cemina, do grupo catarinense Cecrisa, fabricante de produtos de cerâmica branca; a Precon, produtora de artefatos de cimento e amianto; e o Centro de Gemologia do Estado de Goiás, que prosperou, mas hoje (2010) está paralisado.
Com a mudança de governo, o DAIA padeceu, anos seguintes, com sérias dificuldades. Muitas indústrias que obtiveram escritura para ali se instalar, refluíram em seus projetos, em maior parte por não haverem obtido os incentivos esperados, ou por outros motivos de natureza econômica.
Por lacuna contratual na concessão das áreas, muitas escrituras tiveram que ser anuladas judicialmente em complicados processos, para retomada pelo governo de lotes não ocupados.
Pouco a pouco, todavia, em decorrência do crescimento populacional e das exigências de mercado, a feição do DAIA foi tomando forma e consolidando-se. Hoje, com a instalação do arrojado projeto da Plataforma Logística Multimodal de Goiás, modelo trazido da Espanha, o DAIA representa um grandioso patrimônio do Estado de Goiás.
São mais de cem plantas industriais, algumas de grande porte, como a CAOA, montadora de veículos Hyundai; grandes indústrias farmoquímicas, como a Teuto, a Geolab, a Roche, a Neoquímica a Pfizer, e muitas outras em fase de implantação, que promovem grande circulação de riquezas.
E Anápolis se degarra de sua condição de modesta cidade do interior para inserir-se no concerto nacional, como um grande polo de desenvolvimento, atraindo capitais e concentração de valores que atuam no sonhado crescimento de nosso país.
O DAIA é uma conquista de Anápolis, graças à atuação dos diretores da ACIA, que, em todos os momentos, não mediram esforços para vencerem as barreiras que lhes eram e são apresentadas.